segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Como é a Relação entre Artistas de Desenho, Ilustração, Quadrinhos e Outros, com seu Público e o Mercado de Trabalho?

Muitos artistas que decidem seguir esta linha autoral podem não obter sucesso algum com seus trabalhos porque o estilo adotado por ele, ou pelo qual ele é atraído, pelo qual é apaixonado, simplesmente não criou empatia com um perfil mínimo de pessoas. O que muitas vezes acaba acontecendo é que, ou ele desiste e parte para outra atividade, ou fica limitado a um número de “consumidores” que não é capaz de lhe dar um sustento financeiro razoável. Coloquei aspas na palavra consumidores porque geralmente pessoas que compram este tipo de material não se consideram um consumidor, já que este é um tipo de relação artista/público visto como não comercial.

A diferença entre os artistas autorais que obtêm sucesso comercial e os que não obtêm é simplesmente a possibilidade de seu estilo criar empatia com um número maior ou menor do público. Não há como saber se um estilo vai ou não cair no gosto das pessoas, isso não é uma ciência exata.

Estamos falando aqui dos casos realmente autorais, puros no sentido de como foram criados... Muitos se consideram autorais e não são. Muitos se dizem influenciados por um tipo de linha autoral e não são. Isso, para qualquer editor bem formado e informado, transparece com clareza ao bater os olhos no trabalho. Discursos de artistas dizendo que são autorais só podem ser validados pela qualidade ou veracidade do próprio trabalho. E isso se mostra na prática. É muito fácil dizer que tem influências undergrounds, alternativas... autorais. Mas basta dar uma olhada mais atenta (às vezes nem precisa ser tão atenta assim...) para saber quais as verdadeiras influências desses artistas. Muitos tentaram ser comerciais e não conseguiram, assim, fica fácil fazer o que se sabe fazer e dizer que sempre foi underground, alternativo.

Para estes artistas, o cuidado não deve ser apenas com o olhar atento e crítico do editor, mas também com o do público. Este tipo de material é muito carregado de alma, e se está direcionado para um público alternativo (de verdade), não vai conseguir alcançá-lo, já que o público, fatalmente, não vai se conectar a uma coisa que não cheira muito a verdade. Ele vai, sim, alcançar um público ainda em formação, ou que segue uma “moda” ou algo do tipo, mas, para os verdadeiros alternativos, seu material sempre soará estranho.

Mas vamos deixar claro... Todo este raciocínio está ligado ao que se considera sucesso em termos comerciais. Cada um tem seu próprio ponto de vista, sua expectativa do que seja sucesso. Para alguns é o reconhecimento por um número enorme de pessoas, revertido em grandes números de venda e acessibilidade a muitos mercados e perfis de clientes e públicos. Para outros é conseguir se expressar exatamente como se quer e só... e à felicidade de alguém se conectar a você, como artista, e seu modo de pensar, de ver o mundo e a vida.

Os artistas técnicos, por sua vez, conseguem desenvolver uma série de estilos gráficos em desenho, ilustração e animação, entre outros. Este perfil recebe muitas vezes um título pejorativo... peão de prancheta (ou de computador). Eles estão sempre entulhados de trabalho em épocas especificas do ano, e em outras se preocupam demais pela falta de um volume mínimo de trabalho que lhes possibilitem um equilíbrio financeiro. Isso acontece porque eles seguem os ritmos sazonais das editoras... ou seja, as épocas de fechamento e produção de livros dentro de planejamentos editoriais específicos.

Assim, alguns, por seguirem este ritmo, procuram outras áreas de trabalho em períodos de baixa. Se você, durante a maior parte do ano, direciona sua atividade para livros didáticos, por exemplo, pode pegar trabalhos em animação, publicidade, etc. Pensando assim, e este é um pensamento bastante prático (e que pode ser acusado de não ser muito artístico), é interessante ao profissional das artes gráficas que tenha uma formação técnica mínima de trabalho para não correr o risco de ser o tipo de desenhista, ilustrador, etc. que passa o tempo todo por dificuldades financeiras.

Estes artistas, além de serem verdadeiros camaleões em estilos, também precisam desenvolver um tino comercial forte para se tornarem bons vendedores de seus talentos. Eles devem ser muito versáteis também, ficando o tempo todo atentos e se adaptando rápido a novas tendências, estilos, traços, exigências editorias, evoluções técnicas de processos de trabalho e editoriais. Alguns destes artistas do desenho, ilustração, quadrinhos, animação e por aí vai, sejam eles técnicos ou autorais, não conseguem pensar de maneira tão empresarial... não são tão bons vendedores de seu talento. São artistas preocupados na maior parte do tempo com o aprendizado e a evolução técnica ou intuitiva de seus trabalhos. Por este motivo, alguns deles acabam entrando em estúdios de arte, agências de publicidade ou trabalhando dentro de setores de arte nas editoras.

Artistas que conseguem administrar bem suas carreiras trafegando entre seus trabalhos mais autorais e também os encomendados, executados de acordo com exigências editoriais específicas, acabam sendo muito bem-sucedidos também em termos de valorização criativa. Isto é, todos os editores os respeitam porque possuem um trabalho gráfico único, uma personalidade gráfica forte, bem estruturada, aliada à técnica, e isso confere a eles um status que acaba extrapolando os parâmetros normais da profissão. Cito novamente os mesmos exemplos de antes (Ziraldo, Laerte, Angeli...).

PARTE I: Os artistas do Desenho, da ilustração e Animação!




PARTE IV: Reconhecendo os Terrenos de Desenho, Ilustração, Quadrinhos e Animação.

MARCELO CAMPOS

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